A Polícia Federal deflagrou em agosto a Operação Anjos da Guarda, que desbaratou um ousado plano de libertação de líderes do PCC, entre eles Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola, transferido em março deste ano para uma penitenciária federal em Porto Velho.
Os indícios do plano foram descobertos ainda no ano passado e a PF passou a monitorar as conversas entre Marcola, sua mulher Cynthia Giglioli da Silva Camacho e advogadas.
Além da interceptação telefônica, a Justiça autorizou a captação das conversas no parlatório dos presídios e escutas ambientais. No áudio de uma visita ocorrida em abril e obtido com exclusividade por O Antagonista, o criminoso reclama com a esposa das condições carcerárias, que, segundo a PF, estariam dificultando o planejamento de uma eventual fuga.
“Aqui tá pior, tô sendo oprimido de verdade aqui”, relata Marcola. Ao responder, Cynthia relaciona seu possível retorno à capital federal ao atual processo eleitoral e cita uma obra realizada no presídio. “Então, você vai ficar aqui provavelmente até a eleição, trocou o governo cê volta (sic) passando as eleições, você deve voltar para Brasília porque o muro que fizeram lá era por causa de você.”
Em seguida, ele relata que, mesmo não estando em RDD (Regime Disciplinar Diferenciado), foi isolado na carceragem de Porto Velho para evitar o envio e o recebimento de mensagens de fora da cadeia. “Os caras tiraram todo mundo do pavilhão e deixaram só eu, sozinho. Eu tô sozinho entendeu (…) Eu não tô em RDD, eu tô no pavilhão normal sozinho, tiraram 50 caras.”
Antes disso, em maio do ano passado, quando ainda estava no presídio da Papuda, em Brasília, a PF captou outra conversa de conteúdo político entre Marcola e seu comparsa Cláudio Barbará da Silva. No diálogo, segundo relatório da polícia, o líder do PCC diz que “não dá nem para comparar” Lula e Bolsonaro.
A preferência dos criminosos por Lula como presidente é explicitada em outra conversa captada pela Polícia Federal entre Marcola e Esdras Augusto do Nascimento Júnior. “Se colocar um do lado do outro, o Lula é melhor que ele para nós. Se for analisar mesmo, jogar os dois numa sacolinha e balançar. Se abrir ela, você não sabe qual que é a merda que tá ali”, diz Esdras.
“Ah, mas… para nós o Bolsonaro é pior (…) O Lula é ladrão mesmo, pilantra entendeu… só que é o seguinte, irmão. Essa fita do Covid mesmo, o Bolsonaro deu uma mancada. Bolsonaro é parceiro da política, da milícia. Cara é sem futuro. O Lula também é sem futuro, só que entre os dois, não dá nem para comparar um com o outro“, responde Marcola.
E completa: “Todo mundo sabe que o Lula é ladrão. Tem que sair fora mesmo desse arrombado aí (Bolsonaro). Ele e os filhos dele.”
Esdras diz ainda que, se Lula ganhar, “vai dar uma embaçada nesses filhos dele”. “Vai mudar a (Polícia) Federal, mudar o jeito dele, fazer o tabuleiro dele. Vai embaçar mesmo na vida do Bolsonaro e da família dele.”
Marcola, então, lembra ação que contestou no Supremo a limitação de visitas íntimas nos presídios. “A gente perdeu, mas foi o PT que fez, tá ligado.” Esdras corrobora: “O PT tem um pezinho no…”. “Quer dizer… se o Lula ganhar, dá para ir para cima desses caras aí pedindo alguma coisa”, afirma o líder criminoso ao colega.
Em 2020, o Instituto Anjos da Liberdade contestou no Supremo portaria do Ministério da Justiça que restringiu o benefício a presidiários de alta periculosidade. Flávia Froes, presidente da ONG, também foi autora de um pedido de impeachment de Jair Bolsonaro, com registramos na ocasião.
Ouça os áudios:
Numa outra conversa interceptada pela PF em janeiro, Barbará volta a tratar de eleição, desta vez com a advogada Vanessa Jeniffer Cabral. O criminoso diz que leu um livro sobre o período em que Lula esteve preso e espera que o petista, caso eleito, faça um “trabalho excepcional”. “Ele é bom. Acredito que ele fica 4 anos, pela idade dele, para limpar, fazer um trabalho excepcional.”
Ouça o áudio:
Reinaldo Teixeira dos Santos, o Funchal, também trata do cenário eleitoral com uma advogada, identificada apenas como Fabiana. No diálogo, ele diz que “Lula foi absolvido de novo” e pergunta se o petista poderá concorrer à Presidência da República. Ela responde positivamente. Os dois fazem piada com a disputa. Funchal foi condenado pelo assassinato do juiz corregedor Antônio José Machado Dias, em 2003.
Por Claudio Dantas | O Antagonista
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